sexta-feira, 29 de outubro de 2010

HISTORIA DA IBCOR: o pastorado Sebastião Tiago Araujo



Capitulo V
O PASTORADO SEBASTIÃO TIAGO CORREA DE ARAÚJO


O pastorado de Sebastião Tiago Correia de Araújo na IBCOR se estendeu de 18 de julho de 1926 a 27 de abril de 1951, quando o Senhor o chamou para a Glória. Sua eleição para o pastorado da IBCOR ocorreu em 22 de Junho de 1926, quando a Igreja também elegeu três novos diáconos: Lourenço Alves Barbosa, José Lourenço e Amaro Pereira, e foi designado o dia 18 de Julho de 1926, data comemorativa do Aniversário da Socie- dade de Senhoras, para a posse. O pastor Tiago Araújojá dirigia a Igreja nos últimos meses do pastorado de Manuel da Paz em face da doença deste. Indicado o nome para o pastorado da Igreja, pediu exoneração do cargo de moderador até a igreja tomar uma decisão quanto ao assunto. Empossado o novo Pastor, o seminarista Jose Vidal de Freitas se exonerou do cargo de auxiliar do Pastor, indo Pastorear a Igreja Batista de Gravatá, onde foi consagrado ao Ministério da Palavra.

Uma das primeiras tarefas do Pastor Tiago Araújo, ao assumir o pastorado, foi levar a Igreja a reformar o Templo para acomodar melhor a comunidade, iniciando uma campanha para reconstruir o Templo, desta feita em alvenaria de tijolo. Começou um trabalho pastoral para animar a Igreja a retomar suas atividades após meses de enfermidade do seu antigo pastor. O 22o. aniversário, em 15 de novembro de 1927, foi comemorado de forma festiva, sendo orador o veterano pastor Pedro Falcão.

A IBCOR organizou, em 29 de julho de 1929, durante o Pastorado de Tiago Araújo, a Igreja Batista em Bento Ribeiro (hoje PIB), no Rio de Janeiro (então DF). Essa igreja foi formada por membros oriundos da IBCOR e da IEB da Várzea, que haviam
se transferido para esse subúrbio do Rio de Janeiro. Organizada, a Igreja Batista de Bento Ribeiro elegeu para pastoreá-la Sebastião Tiago Correia de Araújo, o qual peri odicamente viajava até ao Rio de Janeiro, de navio, para dar assistência à comuni dade, celebrar a Ceia do Senhor e realizar batismos. Entre uma visita e outra, enviava mensagens escritas, lidas dominicalmente no Templo, a título de sermão,
à semelhança das cartas enviadas pelos apóstolos para as igrejas cristãs primitivas.

A IBCOR permaneceu vinculada à Convenção Batista Regional e à Associação Batista Brasileira (ABB) até 1938. A IBCOR ao tomar conhecimento de que o Seminarista João Norberto da Silva, que fora membro, participara de ato de consagração ao ministério pastoral, na Igreja Batista do Zumby (“chamada de Igreja Batista Americana do Zumby”), fez um protesto. O ato tivera a presença do Diácono Gabriel Arcanjo, da IEB da Várzea, que também gerou protesto da IBCOR, porque o Pastor Tiago Araújo era o Secretário Executivo da Convenção Regional e da ABB, cargo exercido em boa parte desse período, quando atuara na mediação de conflitos, como o que envolveu o Pastor Pedro Falcão e a Igreja Batista da Paraíba (João Pessoa) e o obrigou a se deslocar para aquela cidade, para conciliar os ânimos. Ainda no ano de 1931, a IBCOR, através do seu Pastor e Diáconos, participou da consagração, ao Ministério da Palavra,
de Manoel Batista e de José Domingos de Figueiredo. Em 1933 participou também da consagração do seminarista José Lins de Albuquerque73, aluno do Seminário Batista
Brasileiro. As igrejas remanescentes da ABB, em 1938, realizaram uma Assembléia, na Igreja Batista da Torre, onde deliberam dissolver a Associação e se filiarem à Convenção Batista Brasileira e à Convenção Batista Pernambucana, encerrando
o Movimento Radical.

O mausoléu do pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz, no Cemitério da Várzea,
cuja construção fora iniciada em maio de 1926, logo após seu falecimento, foi concluido em 1930, sendo inaugurado com a presença de membros das várias igrejas em que Manoel da Paz fora Pastor e de muitos outros que o conheceram e admiravam.
A residência Pastoral da IBCOR teve sua construção iniciada em 1931, no mesmo terreno em que estava edificado o Templo. Mais tarde, com a aquisição dos lotes de terrenos vizinhos, a casa Pastoral foi reformada.

A comemoração do 26º Aniversário de organização da IBCOR, em 15 de novembro de 1931, contou com a presença de dois oradores convidados - Pastores José Vidal de Freitas e Natanael Dantas. No Pastorado de Tiago Araújo a IBCOR manteve a preocu-pação com a formação intelectual dos seus membros, reorganizando a sua escola anexa, agora sob o nome de Instituto Batista do Cordeiro. Encaminhar alguns dos alunos que concluíam o ensino básico para o Colégio Batista Brasileiro, onde receberam bolsas de estudo: Iracema Correia, José Ferreira, Maria Aragão, Nehemias Pereira e Doralice Aragão (tia da homônima).

A IBCOR, em fevereiro de 1933, elaborou os primeiros Estatutos de que encon-tramos notícia. Depois de aprovados, eles foram encaminhados para o respectivo registro. Todavia, lamentavelmente, a pesquisa efetuada no Cartório de Registro de Documentos e de Pessoas Jurídicas não logrou êxito na sua localização.

O irmão Isaque Aragão (Manoel Alves Barbosa) foi eleito, em 10 de dezembro de 1947, Diretor de Música da IBCOR, substituindo ao irmão Nelson Pereira permanecendo nessa função por vários anos, até que suas atividades profissionais o impediram de continuar.

A eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, modificou a situação social econômica, criando dificuldades em todo o mundo. O comércio e a indústria do Nordeste e do Brasil foram afetados pela retração do mercado e pelo aumento nos preços da matéria prima, com a conseqüente redução da atividade econômica e diminuição da oferta de emprego. A maioria dos membros da IBCOR eram, nessa
época, empregados das fábricas têxteis que abundavam nos bairros da Torre, do Cordeiro e da Várzea, e sofreram as conseqüências da situação econômica.
Os frutos presentes do pastorado Tiago Araújo.

Entre os frutos do pastorado de Sebastião Correa de Araújo estavam presentes na Igreja na comemoração do centenário, recebidos década de quarenta: (a) por batismo: (1) Manoel Alves Barbosa (conhecido como Isaque Aragão), suas cunhadas Iraci Alves Aragão e Abigail e a esposa Doralice Barbosa e o primo Edgar Alves Aragão (primeiro universitário batista pernambucano); (2) Raquel Aragão Cavalcanti de Albuquerque; Anatilde Lira de Souza, mãe de Neemias Lira, que com a família são membros da Igreja; e (4) Maria do Carmo de Souza. Isaque, Doralice eram pais de Liliane e Humberto. Edgar, casado com Dulce Marques do Aragão, tem os filhos Alda, Célia, Suely, Edgar Júnior, Deyse, Pedro Henrique e Marcelo, que ainda eram membros da
Igreja, à exceção de Suely que, com seu carisma e simpatia, que o Senhor tomou para Si, para ornar a mansão celestial, deixando saudosos os que a conhecemos; (b) por carta de transferência: Hermengarda Alves Sales, vinda da IEB da Várzea. Hermengarda casou com Manoel Rocha e alterou o nome para Hermengarda Sales Rocha. O casal teve
os filhos Marcos, Marli, Miriam, Manoel Filho, Marta, Marlene, Márcia, Marisa e Moisés, os quais são, à exceção do primeiro e do terceiro, membros da Igreja.
Isaque, Doralice, Edgar Aragão e Hermengarda Rocha (minha mãe do coração) já foram chamados ao Lar Celestial, deixando saudades.

O Novo Templo da Igreja. O segundo Templo, que seria edificado sobre o primeiro, com alteração de sua área e arquitetura, teve concluída sua construção na década de quarenta. Esse Templo foi uma obra de fé, construído numa época de difícil situação econômica, depois da grande depressão até o início da segunda guerra mundial. A economia brasileira e nordestina na época sentiram os efeitos, especial mente as industrias têxteis, empregadoras da maioria dos membros da Igreja. O Pastor Tiago Araújo, porém, não era homem de esmorecer e, com a fé firmada no Senhor, levou o seu rebanho a edificar o maior e mais belo Templo Batista da capital. Nele, os cordeirenses cultuaram a Deus até 1970. Nessa época, sofreu uma ampla reforma, podendo hospedar muitas assembléias e reuniões da denominação, entre as quais a Assembléia da Convenção Batista Evangelizadora de Pernambuco, em 1944.

A IBCOR, no seu pastorado, participou da Campanha Simultânea de Evangelização, promovida pela Junta Evangelizadora (1951). Nesse período a IBCOR convidou o Semina rista Jesimiel Norberto da Silva para auxiliar do Pastor Tiago Correia de Araujo, tendo esse irmão servido à Igreja até depois da posse do Pastor David Mein. Foi inclusive convidado a assumir o Pastorado efetivo da IBCOR, em 1952, convite que declinou82. Trabalhou como Pastor adjunto até 1953.

O Pastor Tiago Araújo, durante o Pastorado da IBCOR, pastoreou, de forma simul-tânea, as Igrejas Batistas do Monteiro (Recife), da Estância (Recife), a Igreja Batista de Moreno e de Bento Ribeiro (RJ). Nos últimos anos do seu Pastorado, teve que reduzir sua atividade, em face da doença que o afligia. Ao falecer o Pastor Sebastião Tiago Correa de Araújo em 27 de abril de 1951, o Seminarista Jesimiel Norberto assumiu a direção da Igreja na parte espiritual, até que esta escolheu e empossou o Pastor David Mein.

Biografia do Pastor Sebastião Tiago Correia de Araújo. Alagoano de Rio Largo, nasceu a 26 de agosto de 1894, filho de Lúcio Correia de Araújo e de Galdina Maria de
Araújo, residentes na vila Cachoeiras, município Santa Luzia (AL), no então distrito de Rio Largo. Converteu-se a Cristo ouvindo mensagem pregada pelo Pastor Manoel
Virgínio de Souza. Batizado, em 18 de abril de 1914, pelo Pastor José Pereira Salles, na Igreja Batista do Rio Largo. No dia 30 de abril de 1915, foi consagrado Diácono dessa Igreja, passando a servir como auxiliar do Pastor José Pereira Salles durante dois anos, sendo recomendado ao Seminário Batista no Recife, onde chegou em 1918, como afirma José Alves Feitosa, seu colega de turma. No Recife, trabalhou como auxiliar do Pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz, na Igreja Batista do Cordeiro. Mais tarde, na Igreja Batista do Cabo, foi auxiliar do Pastor Pedro Falcão. Deixando o Pastor Pedro Falcão o Pastorado, em 1920, a Igreja Batista do Cabo o convidou para o seu ministério, sendo consagrado no Templo da IBCOR, em Concílio composto dos pas tores Pedro Falcão (presidente), Antonio de Castro (secretário), David Luke Hamilton (examinador), Manoel Corinto Ferreira da Paz, Abílio Pereira Gomes, J. P. de Castro, Cleóbulo Cardoso, Eloy Correia, João Jorge de Oliveira e dos diáconos Pedro Pereira, José Batista A. Falcão e Manoel Raimundo. Casado em primeiras núpcias com Raquel Correia de Araújo, teve a filha Judith e mais outra, que morreu com a mãe na ocasião do parto. Casou em segundas núpcias com Maria Pereira da Cruz, uma jovem viúva, com dois filhos (Daniel Porfirio da Cruz e Elias Porfírio da Cruz), sendo o casamento celebrado pelo missionário William Carey Taylor, em 22 de setembro de 1922. Aos três filhos, o casal juntou outros onze: Silas, Raquel, Paulo, Ligia, Vasty, Edson, Lutero, Sulamita, Jessé, Isabel e Miriam. O casal ainda teve vinte e seis netos e muitos bisnetos, alguns membros da IBCOR até data recente: Ester Araújo Oliveira, Misael Aragão Araújo (casado com Lindinalva) e sua filha Solange e Moisés Correia (casado com Luciara) e seus filhos. No seu Pastorado, a Igreja hospedou várias vezes a Convenção Batista. Ainda no seu Pastorado, a IBCOR iníciou a construção do novo Templo, no local do antigo, mas com estrutura, frontispício e área diferentes. Lá hospedou a Convenção Batista Evangelizadora de Pernambuco em 1944. O Pastor Tiago concluiu sua obra em 27 de abril de 1950, quando o Senhor da Seara o convocou para a sua Glória. O Pr José Alves Feitosa, seu amigo e colega de turma ao se referir ao Pastor Tiago Araújo, assim se expressou: “Faleceu às 19 horas do dia 27 de abril do corrente o Pastor Tiago de Araújo, como era tratado na irmandade. Já era esperado desenlace, visto o seu estado de saúde. Aguardava-se o desfecho porque já havia meses que vinha doente sem muita possibilidade de melhora e por isso não nos
surpreendeu a sua morte”.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

HISTORIA DA IBCOR: o movimento radical


Capítulo IV

A IBCOR E O MOVIMENTO RADICAL (1923 – 1936)


O envolvimento da IBCOR, do Pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz e do missi- onário William Carey Taylor, além de outros lideres, teve grande repercussão na vida da Igreja durante mais de uma década. Somente com o final desse movimento foi que a vida da Igreja retomou sua normalidade. No curso desse movimento, as Igrejas do Estado se dividiram em dois grupos antagônicos e foi eliminado do rol de membros o missionário William Carey Taylor.

Episódio constrangedor para a nossa História, como cristãos e como Batistas, por dever de fidelidade não podemos omiti-lo, embora em certos círculos ainda seja tabu tratar do assunto. Reis Pereira, na "História dos Batistas no Brasil (1862–1982)" , declara que “a questão radical foi um recurso que usou o Príncipe das Tre vas para deter a marcha de um movimento que ia ganhando casa vez mais força”. Todavia, nós encontramos no episódio, apesar de tudo, um fator de crescimento do cristianismo evangélico e do trabalho Batista em Pernambuco e noutros Estados. Basta verificarmos as igrejas organizadas no auge do movimento. Ainda que o crescimento
numérico tenha decaído num primeiro momento, posteriormente as agencias do Reino de Deus cresceram e frutificaram.

O Sabor Amargo e os Frutos da Querela. O movimento radical surgiu, de inicio, em razão de divergências entre os missionários americanos e os obreiros nacionais sobre as prioridades do trabalho e sobre a utilização das verbas enviadas pela Junta de Richmond, entre educação (prioridade dos missionários) e evangelização (prioridade dos nacionais), além de quem controlaria os recursos. Os missionários também mantinham em suas mãos os postos de controle do campo, restando aos nacionais os secundários. O problema similar surgira, de início, numa outra denominação, de modo semelhante à questão maçônica, quando obreiros nacionais se indispuseram com missionários norteamericanos, em face de intolerância dos primeiros no tocante à filiação a Maçonaria. Carlos Eduardo Pereira, presbiteriano, influen ciou alguns Batistas com suas idéias, chegando suas idéias até Maceió (Igreja Batista de Maceió, AL), onde houve uma cisão no início do Século XX que foi soluci-onada com a intervenção do missionário Robert Edward Pettigrew. A questão radical teve pano de fundo inicial com a questão do sustento próprio, quando os missionários americanos passaram a defender o principio de que cada igreja devia sustentar o seu obreiro e o maior volume dos recursos deveriam ser encaminhado para educação e outras finalidades. Os missionários, por outro lado, entendiam que a gerência dos recursos financeiros deveria ser deles, em razão da política adotada pela Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos (Junta de Richmond) em relação aos seus campos missionários. Os obreiros nacionais, por seu lado, desejavam administrar esses recursos e aplicá-los no trabalho de evangelização, inclusive no sustento dos obreiros. Há quem diga que houve componente de orgulho das pessoas envolvidas no episódio, de ambos os lados. O fato é que os missionários ainda não consideravam os lideres locais preparados para administrar os recursos financeiros e estes, por
sua vez, se sentiam diminuídos pelo procedimento adotado.

Os obreiros nacionais julgavam inaceitável esta situação e lançaram um mani festo dirigido aos missionários e, não sendo aténdidos, passaram a retaliar, pas sando o que era mera divergência administrativa a se tornar divergência pessoal.
A primeira manifestação pública de insatisfação ocorreu na Convenção Regional, na Igreja Batista em Vila Natan (Moreno), quando o discurso de um missionário na Bahia,
sobre o sustento próprio do obreiro da Igreja, foi duramente criticado pelos nacionais. Outras manifestações ocorreram em lugares e ocasiões diferentes, até a Assembléia Convencional realizada em 1921, na Igreja Batista do Cordeiro, quando a matéria estava pronta para explodir. Os dirigentes convencionais da ocasião, de modo sensato, contornaram o problema que aflorou adiante. A crise eclodiu durante a Assembléia Convencional de 1922, realizada na Igreja Batista de Gravatá. Acarretou a
divisão do trabalho Batista no Estado em dois grupos antagônicos: os radicais e os construtivistas.58 Os radicais tinham o jornal “O Batista Regional”, dirigido durante algum tempo por Manuel da Paz, enquanto que os construtivistas fundaram “O Correio Doutrinal”, dirigido por William Carey Taylor.

Os alunos do Seminário Batista, exceto dois, abandonaram a Instituição, o que levou a maioria das alunas da Escola de Trabalhadoras Cristãs (ETC) a acompanhá-los em solidariedade. Os Pastores nacionais alojaram-nos, de forma provisória, em residência de crentes e depois alugaram uma casa, na Rua Visconde de Goiana, onde instalaram o Colégio e o Seminário Batista Brasileiro para abrigá-los. Esses alunos do Seminário alegaram para suas Igrejas que tinham sido expulsos, e também as alunas da ETC As Igrejas vinculadas ao grupo radical passaram adotar atitudes estranhas, em retaliação, como não conceder carta de transferência a quem discordava da posição adotada e a eliminar do seu rol de membros das Igrejas todos os que se enquadravam nessa situação, algumas vezes fazendo acusações absurdas. O resultado destas eliminações foi a fundação de várias novas Igrejas: (1) IB Zumby (22 de março de 1923), com vinte e três membros oriundos da IB Torre; (2) IB Capunga (19 de abril de 1923), com treze (13) membros oriundos da PIB Recife e recebidos pela IB de Olinda; (3) IB de Afogados (23 de maio de 1923), com treze (13) membros oriundos da IB Rua Imperial; (4) IB da Concórdia (8 de novembro de 1923), com membros oriundos da PIB do Recife, inclusive o Pastor Orlando do Rego Falcão. Estas se definiram como cooperantes com a Missão norte americana, das quais falaremos adiante com maiores detalhes. No período ainda foram organizadas as Igrejas: Brasileira (Moreno); 1ª Beberibe (Recife), de Campo Alegre, de Escada, de Caruaru, do Oiteiro (em Casa Amarela, Recife), de Casa Amarela (Recife), de Cachoeira (Limoeiro), 2ª de Goiana, de Santo Amaro (no Recife), de Timbaúba (reorganizada), e da Várzea (Recife), filiando-se umas à Convenção Batista de Pernambuco e outras à Convenção Batista Regional. Cabe uma observação relevante. Alguns autores registrem que, no primeiro momento, apenas duas Igrejas, a IB de Olinda e a IB de Lagedo, apoiaram os missio- nários. As demais teriam apoiado a Convenção Batista Regional. Entretanto, Isabel Spacov, ao escrever Igreja Batista da Capunga, Documentando sua Formação, demonstra, por registro documental (a ata de fundação) que cinco Igrejas permaneceram apoiando os missionários no litígio: a Igreja Batista de Olinda, pastoreado por Benício Leão; a Igreja Batista de Vermelho e a Igreja Batista de Limoeiro, pastoreadas por Manoel Olimpio de Holanda Cavalcanti; a Igreja Batista de Ilhetas e a Igreja Batista de Lagedo (Goiana), pastoreadas por Leslie Leonidas Johnson. Estas foram as igrejas que se fizeram representar no Concílio de formação da Igreja Batista da Capunga. O ambiente era de verdadeira guerra, com pouco respeito ético aos adversários de idéias, alguns dos quais se tornavam adversários pessoais. Estando a Convenção Batista Regional estava controlada pelos lideres radicais, cujas igrejas recusaram a cooperação com os missionários da Junta de Richmond, estes patrocinaram a organi zação de nova entidade cooperativa, a Convenção Batista Pernambucana, para con-gregar as igrejas, em número de quinze, que decidiram permanecer cooperando com Missão.

A Assembléia de organização da nova entidade foi realizada na IB da Capunga, em 1º de novembro de 1923, quando elegeu a seguinte diretoria: Presidente: José Paulino Raposo Câmara; Vice-presidente: Leonidas Lee Johnson; 1º Secretário: Acácio Vieira Cardoso; 2º Secretário: Stella Câmara; e Tesoureiro: Arnald Edmund Hayes. O movimento radical arrefeceu em 1925, na ocasião em que foram estabelecidas as Novas Bases de Cooperação, tendo a Convenção Batista Brasileira (CBB) tomado uma posição sobre o assunto. Os recursos obtidos, enviados pela Junta de Richmond, seriam administrados pelos missionários. Os levantados pelas Igrejas locais seriam administrados por estas. Essa decisão foi aceita pela maioria dos obreiros e das igrejas do grupo radical, mas onze igrejas, lideradas pela PIB do Recife, inclusive a IBCOR, preferiram se desligar da Convenção Batista Brasileira (CBB), permanecendo afastadas até 1938. Estas igrejas, juntamente com outras dos Estados da Bahia, de Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo, organizaram a Associação Batista Brasileira (ABB), que estabeleceu cooperação com a a NABA – North American Baptist Association, missão norte americana com sede no Estado do Texas.

Os resquícios do movimento radical desapareceram em 1938, quando as trinta igrejas filiadas à Associação Batista Brasileira (ABB), se reuniram em Assembléia, no Templo da PIB da Torre, e decidiram pela dissolução da entidade. Dezenove destas Igrejas retornaram à Convenção Batista Pernambucana, juntamente com líderes desta cados do movimento: Rosalino da Costa Lima, José de Albuquerque Lins, José Domingos de Figueiredo, Natanael Medrado e Adolfo Lira do Rego. Outras não, como a 2ª Igreja Batista da Torre (organizada em 1937) se fundiu com a PIB da Torre, pasto- oreadas pelo Pastor Antonio Marques Lisboa Dorta, mudando o nome para Primeira Igreja Evangélica Batista da Torre. Estava encerrado o primeiro grande cisma entre os Batistas de Pernambuco.

Uma nova cisão ocorreu em 1940, em decorrência de um problema administrativo do Seminário Batista, quando os membros da Convenção Batista Pernambucana deixaram de cooperar com a Missão. Os missionários, novamente, patrocinaram a organização da Convenção Batista Evangelizadora de Pernambuco, passando a haver no Estado duas Convenções, embora ambas filiadas à CBB: a Convenção Batista Evangelizadora de Pernambuco e a Convenção Batista Pernambucana66. Essa situação diferiu em muito da anterior porque, embora divergindo quanto às diretrizes administrativas do trabalho, havia um relacionamento fratérno entre os dois grupos de igrejas e de crentes. Havia troca de cartas de transferência de membros, e os obreiros da igreja de um grupo eram aceitos para Pastorear igrejas do outro grupo.

A cisão, foi finalmente encerrada em 1973, numa Convenção conjunta, onde as duas convenções se fundiram na Convenção Batista de Pernambuco. Essa assembleia conven cional histórica, realizada no Templo da Igreja Batista da Capunga, selou de vez a amizade fratérna existente entre todos os Batistas pernambucanos, que passaram a trabalhar em conjunto para o progresso do Reino de Deus, nesta terra do Leão do Norte, reuni dos na Convenção Batista de Pernambuco. Esta, com a herança das ante-cessoras, soma 110 anos de coordenação do trabalho batista no Estado de Pernambuco.

HISTORIA DA IBCOR: pastorado Manoel Ferreira da Paz



Capítulo III

O Pastorado MANOEL CORINTO FERREIRA DA PAZ (1908-1926)


O segundo Pastorado de Manuel Corinto Ferreira da Paz é o quinto na ordem crono- logica e se estendeu de 7 de novembro de 1908 a 30 de abril de 1926, quando Deus o chamou para Si. O trabalho do Pastoral do Pastor Manuel da Paz na IBCOR foi marcante não apenas pela pregação do Evangelho, mas pela edificação do rebanho que o Senhor lhe confiou, ao longo de dezoito anos. Manuel da Paz era considerado um bom pregador da Palavra, a ponto do missionário William Carey Taylor, professor de teologia do Seminário, sua ovelha durante vários anos, declarar que sentia prazer em ouvir o Pastor Manuel da Paz expor a mensagem das Sagradas Escrituras, em sermões dominicais dedicados à instrução doutrinária da Igreja, pregados nas manhãs de domingo, onde discorria com simplicidade e firmeza doutrinária. A Taylor não parecia estar ouvindo um homem sem formação universitária (TAYLOR, O CORREIO DOUTRINAL, 07.05.1926)

As atividades ministeriais do Pastor Manuel da Paz transcendiam ao púlpito. Ele era dinâmico na administração da Casa do Senhor, presidindo mensalmente as assem- bléias da Igreja e encaminhando à solução assuntos urgentes e relevantes. Há alguns aspectos do seu Ministério que merecem ser lembrados.

A Escola Batista. No início do Pastorado Manuel da Paz, teve a visão de fundar uma escola primária (Escola Paroquial Batista), onde estudariam as crianças filhas dos membros da Igreja e, à noite, adultos, no curso de alfabetização de adultos, para aqueles que desejavam. Estas Escolas Anexas, como eram chamadas, foram instituídas pelas igrejas evangélicas (batistas, presbiterianos, Metodistas e Adventistas) com dupla finalidade: possibilitar a educação dos filhos dos membros em ambiente calmo e tranqüilo e, ministrar instrução cristã, de acordo com a fé dos seus pais. As escolas públicas de então tinham, como professores, pessoas vinculadas à religião católica romana, que tratavam com menosprezo e grosseria os filhos dos evangelicos, permitindo ser alvo do deboche de outros alunos, com raras exceções. As
escolas vinculadas às Igrejas Batistas, além de propiciar um ambiente acolhedor para os alunos, facilitava, aos filhos de famílias menos aquinhoadas, terem oportunidade de estudar, como a grande maioria na época. Assim foi até os anos sessenta quando as escolas publicas se tornaram abundantes e de boa qualidade e se respeitavam os cris tãos não católicos. Algumas destas escolas Batistas se tornaram centros de ensino de renome, influenciando a sociedade pela educação dos filhos. Exemplos são, entre outros, os Colégios Americano Batista (no Recife), Onze de Setembro (em Arcoverde) e Sete de Setembro (em Caruaru).
A Escola Paroquial depois mudou o nome para Instituto Batista do Cordeiro e funcionou até 1985, educando milhares de filhos de membros da IBCOR e congregados. Muitos alunos desta escola vieram a se tornar obreiros da Seara, entre os quais Tércio d’Oliveira (STBNB 1918), Abílio Pereira Gomes (STBNB 1928) e João Norberto da Silva (STBNB, 1932). Outros se destacaram na denominação e na sociedade, chegando à Universidade para estudar Direito, Medicina, Engenharia, Serviço Social e muitas outras profissões, contribuindo para a divulgação do Evangelho de Jesus Cristo.

As Atividades na Denominação. A IBCOR, desde os seus primórdios, foi uma igreja atuante no campo da denominação. Ao ser planejada a organização da Convenção Batista Brasileira (CBB) em 1907, em Salvador (BA), contribuiu financeiramente para o envio do Pastor João Borges da Rocha àquela Assembléia. A CBB foi organizada pela inspi ração e persistência de Salomão Ginsburg, para congregar as Igrejas Batistas do Brasil, seguindo o modelo praticado pelos Batistas desde o Século XIX, quando, em 1707, organizaram a Primeira Convenção Batista, na Cidade de Filadélfia (USA). A CBB realizou a terceira Assembléia, no Recife, entre 23 e 27 de Junho de 1909, no templo da PIB do Recife, onde a IBCOR se fez representar, por seus mensageiros Pastor Manuel da Paz e o Diácono Felinto Freire. A 12ª Assembléia da CBB, tambem Recife (1920), teve representação de Igrejas de catorze dos vinte e um Estados da Federação.

A IBCOR, âmbito regional, participou de todas as reuniões da União Batista Leão do Norte (1900-1913) e da Convenção Batista Regional (1914-1925), hospedando em seu Templo as Assembléias em 1915 e 1921. Auxiliou igrejas menores contribuindo para a edificação de Templos, como a Igreja Batista de Moganga (hoje IB Sirigi), fazendo
doação em dinheiro.

A observância dos princípios Batistas. A IBCOR sempre foi uma igreja zelosa da doutrina Batista. Embora os cristãos tenham em comum a fé em Jesus Cristo, nosso Salvador, nós, os cristãos Batistas, temos princípios que nos identificam de modo particular. A IBCOR, desde seu início, observa e ensina esses princípios aos que se tornavam seus membros. Uma forma comum era – e ainda é – a leitura do Pacto das Igrejas Batistas para os novos membros, na ocasião em que eles davam profissão de
fé. Em 1909, esse costume foi tornado em regra, passando dali em diante a ser feito sempre para que os novos membros tivessem a identificação denominacional

A Construção do Templo. Uma das necessidades básicas de uma igreja cristã é um
local próprio para suas reuniões de Culto a Deus e para suas reuniões doutrinárias e de caráter comunitário. Na oportunidade em que assumiu, pela segunda vez (07.11. 1908), o Pastorado da IBCOR, o Pastor Manuel da Paz apresentou o seu projeto de levar a Igreja à edificar o seu Templo próprio, posto que até então se reunia em imóvel alugado. Aprovada a construção do Templo, em 23 de abril de 1911, no lote de terreno arrendado ao irmão Vicente Barbosa de Lima (secretário), a igreja se mobi-lizou e escolheu o irmão Manoel Matheus para administrar a construção, o qual passou a arrecadar contribuições. O Templo foi planejado para ser construído em taipa (estrutura de madeira, com barro), com as seguintes dimensões 26 palmos de frente
(5,46m) e 45 palmos (9m45m) em cada lado, com uma porta e duas janelas na frente e três janelas em cada lado. O Templo foi inaugurado em Culto festivo, realizado
no dia 3 de Maio de 1911, com a presença de irmãos da PIB Recife, Nazaré da Mata, Imperial e Torre. O Templo estava edificado em terreno foreiro, isto é, o ocupante tinha a posse, mas não a propriedade, pagando anualmente uma importância a titulo de foro. Antes mesmo da inauguração, a Igreja votou adquirir a propriedade do terreno, sendo planejado que cada membro da igreja contribuísse com 2$000 mensais. O Templo edificado nessa época serviu à Igreja até o termino do Pastorado Manuel da Paz. Foi reformado no Pastorado Sebastião Tiago Correia de Araújo, sendo edificado em alve naria de tijolo e coberto com telhas de barro.

Os Cálices Individuais para a Ceia. A IBCOR, em 23 de abril de 1911 adotou o uso de cálices individuais na celebração da Ceia do Senhor. As igrejas batistas têm duas ordenanças: a Ceia do Senhor e o Batismo. A primeira delas é celebrada periodica- mente, na época atual, uma vez por mês e em ocasiões especiais como na Semana
comemorativa do Martírio de Cristo (chamada Semana Santa), Natal e Ano Novo. A Ceia do Senhor, para os cristãos dos primeiros séculos, era celebrada sempre que havia
uma reunião da igreja, lembrança (memorial) da morte e do sacrifício de Jesus Cristo, com os dois elementos – o pão, simbolizando o corpo de Cristo, partido por nós, pecadores, e o vinho, o seu sangue, derramado pelos nossos pecados.

Historicamente era usado um cálice comum, o qual, cheio e passava de mão em mão e do qual cada um membro da igreja bebia. A prática se tornou secular, desde os primóridos da igreja instituida por Jesus Cristo, no primeiro, chegando ao início do Século XX sem mudança de forma, quando razões de higiene recomendaram a adoção de cálices individuais, em especial quando epidemias grassaram no país e no Recife. A igreja, por essa decisão, trocou o cálice único, comum, por cálices individuais. Os cálices eram de metal e, posteriormente passaram a ser de vidro. A cada vez que
eram usados, eram lavados e esterilizados. A prática evoluiu e, a partir dos anos oitenta, a Igreja adotou cálices individuais descartáveis.

A Visita de Salomão Ginsburg. O missionario Ginsburg, em março de 1915,retornou
a Pernambuco, visitando as várias igrejas que organizara ou dirigira, chegando ao Recife em 6 de março e permanecendo vários dias no Estado, fato registrado no Jornal Batista: "De volta do interior, comecei a visitar as diversas igrejas da capi- tal. Quinta feira, 10 de março, estive com os irmãos da Igreja do Cordeiro. O dedi cado Pastor Manoel da Paz, apesar de não gozar de perfeita saúde tem feito um exce lente trabalho. Junto ao Templo, a igreja acaba de construir uma escola anexa, freqüentada por mais de quarenta alunos. A obra de Jesus está prosperando e a influencia espiri tual da igreja sente-se por toda aquela zona. A noite tivemos uma reunião abençoada. Deus quer continuar a derramar ricas bênçãos sobre o trabalho ali e sobre o dedicado Pastor Manoel da Paz. (...) 24.03.15. Salomão L. Ginsburg (OJB, 01.04.1915).
A ocasião foi um momento de rever os amigos e os convertidos muitos dos quais ele batizara e de “alimentar a saudade” porque, como dizia o nosso querido Pastor David Mein, “saudade não se mata, se alimenta”.

O Ministério Diaconal. A IBCOR sempre valorizou o Ministério Diaconal,cujos componentes têm sido liderança na Igreja e auxiliares sempre presentes junto a seus Pastores. Nos seus primórdios, a Igreja elegeu o primeiro Diácono – Felinto Pereira Freire –, consagrado no Culto de Ano Novo (1907-1908). No Pastorado Manuel da Paz, o Ministério Diaconal foi estruturado, sendo eleito e consagrado para esse Ministério o irmão Francisco Fernandes de Oliveira (1909). Mais tarde acrescido de Manoel Firmino de Mello (1911), Benedito Firmino de Mello (1911), José Baptista do Rego e Agripino Ferreira de Barros (1912), Severino Valdevino (1913),João Correa e José Pinto (1914), Sebastião Tiago Correa de Araújo, Pedro Antonio Ferreira e Casemiro Baptista, eleitos em 1917 e consagrados em 19 de Junho de 1918, Luiz José da Silva, em 1923.

A pregação da Mensagem do Evangelho. A IBCOR, desde os seus primeiros dias, teve presente a Missão de pregar a Mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, tanto no local onde tinha sua sede, como em locais distantes. No Pastorado Manuel da Paz há registros da existência de Congregações na Iputinga (1915), na Usina Caxangá, na mata norte do Estado (1915) e em Barreiras de Caxangá (1915), na mata sul, todas dirigidas pelo Seminarista Abílio Gomes Pereira. Mais tarde, em 1921, será iniciado o trabalho de evangelização no bairro da Várzea, que prosperará e se transformará
na Congregação na Várzea e organizada Igreja em 15 de Junho de 1923, com quarenta e um membros que receberam cartas demissórias da IBCOR com o nome de Igreja Evangélica Batista da Várzea. Hoje, a IEB Várzea se reúne no seu belo Templo, situado na Praça Prefeito Pinto Damaso, no bucólico bairro da Várzea. Esta é a primeira igreja-filha da IBCOR, hoje dirigida pelo Pastor Pedro Luis Serafim. Nesse período, a IBCOR deu início ao trabalho de pregação do Evangelho em Serinhaem, na residência do casal Manoel e Noca Batista, membros da Igreja, que se mudaram para aquela localidade, para trabalhar na usina de açúcar no município. A congregação cresceu e foi orga- nizada na Igreja Batista de Serinhaém, em 16 de abril de 1924, hoje pastoreada pelo Pastor Walter Amorim. Esta é a segunda igreja-filha da IBCOR.

O Pastor Manuel da Paz não limitou a pregação do Evangelho de Cristo a cidade do Recife e ao Estado de Pernambuco. Encontramos registros de viagens missionarias às localidades de Penedo (AL) e Paraíba.Ele multiplicou o tempo para pastorear as Igrejas Batistas do Poço (hoje IB Nova Sião, AL), de Gravatá (PE), Nazaré da Mata, Rua Imperial, Torre, Feitosa, além da IB do Cordeiro, no Recife (PE).

Alunos Ministeriais. A IBCOR sempre contou com a colaboração dos alunos
ministeriais (Seminaristas) nas suas atividades, que em muito contribuíram para o desenvolvimento dos trabalhos internos e externos. Em algumas oportunidades, eles pregaram e dirigiram a Igreja nas ausências ocasionais do Pastor Manuel da Paz. O primeiro deles foi José Pereira de Salles, que foi auxiliar do Pastorado quando Manuel da Paz mudou a residência para Gravatá, por recomendação médica. Durante o seu período na IBCOR, o Seminarista Pereira Salles já demonstrava o seu dinamismo, pregando e dirigindo todo o trabalho, deixando ao Pastor Manuel da Paz dirigir as assembléias e presidir a Ceia do Senhor, até se recuperar suas forças. Mais tarde, Pereira Salles, consagrado ao Ministério, Pastoreou a IB da Torre (Recife) e a
IB Rio Largo (Alagoas), onde exerceu grande influência na cidade, em especial pela fundação do Colégio XV de Novembro, de grande reputação, recebendo filhos de famí lias abastadas, os filhos de crentes e candidatos ao ministério. A escola atraiu muitos obreiros de Alagoas que vieram estudar no Seminário Batista (Recife). Pereira Salles foi fiel discípulo de Manuel da Paz e o acompanhou no Movimento Radical, tornando-se mais radical que o próprio. Os irmãos Tercio d´Oliveira e Abílio Gomes foram os primeiros membros da IBCOR recomendados ao Colégio e ao Seminário Batista em 1915. Nessa época, os alunos ministeriais estudavam no Colégio as disciplinas do Curso de Bacharel em Ciências e Letras e no Seminário as disciplinas do currículo ministerial. Na conclusão do curso, recebiam o diploma do Colégio Americano
Batista. Somente a partir de 1918 o Seminário passou a fornecer os diplomas aos seus alunos, na primeira Turma de Mestre em Teologia (Munguba Sobrinho, Antonio Neves
Mesquita e Tertuliano Cerqueira). Tércio d´Oliveira e Abilio Gomes Pereira concluíram seus cursos em 1917. O primeiro foi consagrado ao Ministério da Palavra em 19 de Junho de 1918, para servir à Igreja Batista do Rio Largo (AL), e o segundo em 30 de Agosto de 1918, para servir à Igreja do Pilar em Itamaracá (PE).

As Primeiras Igrejas Filhas. A IBCOR, no Pastorado Manuel Corinto Ferreira da
Paz organizou duas novas Agencias do Reino de Deus, a Igreja Evangélica Batista da Varzea, no bairro da Várzea, no Recife (PE), organizada no dia 15 de Junho de 1923, por um grupo de quarenta e um (41) irmãos oriundos da IBCOR que decidiram organizar mais uma Agência do Reino de Deus; Igreja Batista de Serinhaém (PE), organizada em 16 de abril de 1924 na Cidade de Serinhaem (PE), na mata sul do Estado. Essa Igreja teve origem na congregação, iniciada no Pastorado de Manuel da Paz, naquela locali dade na residência do casal de membros da Igreja: Manoel (e Noca) Batista, que para ali tinham se transferido para trabalhar na usina de açúcar.

O Movimento Radical. O Pastor Manuel da Paz, a partir de 1921, envolveu a si e
a IBCOR no movimento radical, que ocorreu em Pernambuco e em outras regiões, quando ocorreu o rompimento da cooperação com a Missão norte-americana, com as igrejas dividindo-se em dois grupos: as que aceitaram a cooperação com os missionários norte-americanos e as que não aceitavam essa cooperação. Dentre as Igrejas do Recife, nenhuma aceitou a cooperação com os missionários. Fora da capital, apenas a Igreja Batista de Olinda, dirigida por Benício Leão, a Igreja Batista de Vermelho e a Igreja Batista de Limoeiro, pastoreadas por Manoel Olimpio de Holanda Cavalcanti, a
Igreja Batista de Ilhetas (Limoeiro) e a Igreja Batista de Lagedo (Goiana), pasto-readas por Leslie Leonidas Johnson. O envolvimento da IBCOR e do Pastor Manuel da Paz e, mais tarde, do Pastor Sebastião Tiago de Araújo, será abordado adiante, com maior detalhamento. O Pastor Manuel da Paz foi um líder influente no movimento
radical, sendo presidente da Convenção Batista Regional e o principal redator do jornal da Convenção – O Batista Regional. Nessa época foi eliminado, da IB do Cordeiro, o missionário William Carey Taylor. Todavia, na ocasião do falecimento do Pastor Manuel da Paz, Taylor publicou, no Correio Doutrinal, um longo artigo, onde traçou o perfil de um homem sincero, leal, corajoso, humilde e independente. Decla rou apreciar seus sermões dominicais, dedicados à instrução doutrinária da Igreja, pregados nas manhãs de domingo, onde discorria com simplicidade e firmeza doutri nária, não lhe parecendo estar ouvindo um homem sem formação universitária. Durante o seu pastorado (1913) a igreja adotou o nome atual - Igreja Batista do Cordeiro.

Dados biograficos de Manuel da Paz. O Pastor Manuel da Paz, como era conhecido, um pernambucano de Moreno, nasceu em 25 de outubro de 1880, filho do casal Mariano Ferreira da Paz e Carlota Liberata Mangueira. Convertido na juventude, através do testemunho de suas duas irmãs mais jovens, foi batizado por Salomão Ginsburg em 24 de agosto de 1902. Foi por este encaminhado para estudar no Seminário Batista, sendo consagrado ao Ministério da Palavra, em 3 de janeiro de 1906, para servir no pasto rado na Igreja Batista da Gameleira (hoje IB Imperial). Pouco depois, em 1906, foi convidado para pastorear também a Igreja Batista do Cordeiro, na localidade de Bomba
Grande, no Recife, em face da exoneração do Pastor Antonio Marques da Silva, que retornara à Cidade de Salvador, no Estado da Bahia. O Pastor Manuel da Paz, além da IB Cordeiro, Recife (PE), Pastoreou, de forma simultânea, as Igrejas Batistas do Poço, em Maceió (Al), de Gravatá (Pe), de Nazaré da Mata (Pe) e da Rua Imperial, da Torre, do Feitosa, as três ultimas no Recife. Casou-se com Ana Ferreira da Paz, em 22 de maio de 1907. Dessa união, nasceram-lhe sete filhos: Árvila (esposa do Pr Gabino Brelaz, Abigail (casada com Nicodemos Alves Guedes, IB Capunga), Corinto Ferreira da Paz (casado com a Professora Onélia Campelo da Paz, que Pastoreou as Igrejas Batis- tas de Rio Largo e Betel, em Alagoas, por cerca de cinqüenta anos), Auristela (casa da com professor José Rodrigues de Melo), Cláudio (casado com Mercedes), Juvenal (professor, casado com Luzinete) e a professora Áurea (membro da IB da Capunga, professora do SEC e do CAB). Estes filhos lhe deram vinte e quatro (24) netos e algumas dezenas de bisnetos. O Pastor Manuel da Paz residiu com a família na casa nº 70 da Rua Nossa Senhora da Saúde, diante do Templo da Igreja.

Autodidata, conseguiu uma rara cultura para a época. Recebeu sua formação teológica de Salomão Ginsburg, a partir do ano de 1900, na escola teológica que mantinha na sua casa. Depois, no Templo da IB do RECIFE, no horário noturno, onde formou os primeiros Pastores do campo e se tornou o embrião do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil.

O Pastor Manuel da Paz formou uma boa biblioteca, onde exercitava a mente no preparo de sermões. Adquiriu livros de medicina naturalista, estudando aplicação de ervas, com os quais ministrava alívio aos menos afortunado, curando da febre amarela a filha do irmão Luiz Gonçalves, de Gravatá.

O Falecimento do Pastor Manoel da Paz. O Pastor Manuel da Paz faleceu em 26 de Abril de 1926, com quarenta e cinco anos de idade, em decorrência de tuberculose.
Seu sepultamento foi um acontecimento marcante, com o féretro saindo da residência do sogro, no bairro da Torre. Seguiu um percurso de cerca de seis quilômetros,
percorrido a pé, por familiares, membros das igrejas que pastoreou, alunos da escola Batista e outros membros da comunidade Batista, até o cemitério da Várzea, onde foi sepultado. Após o sepultamento, uma das primeiras decisões da Igreja foi prover o sustento e moradia da viúva, dona Anna da Paz e seus filhos. Assim em 3 de maio de 1926, a assembléia deliberou conceder-lhe o auxilio mensal de 100$000(cem mil reis) e colocar à sua disposição, para residência, a casa em funcionava a Escola da Igreja, até que ela pudesse encontrar outro imóvel para residir. (CAVAL CANTI, Ebenezer Gomes, Um Pastor da Paz, OJB, de 16.05.1976, p.5) Na mesma ocasião houve deliberação de construir um mausoléu na sepultura do Pastor Manuel da Paz, no cemi tério da Várzea, contribuindo cada membro da Igreja com 3$000 (três mil reis).

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

HISTÓRIA DA IBCOR: os primeiros pastorados

Capitulo II - OS PRIMEIROS PASTORADOS (1905-1908).

A Igreja Batista do Cordeiro (IBCOR), ao longo do seu centenário, teve onze Pastorados efetivos, contados a partir de sua organização em Igreja em 1905, depois de quatro anos (1901 a 1905) em que a comunidade foi congregação da Igreja Batista do Recife, dirigida pelo Pastor Salomão Ginsburg. Os seus quatro primeiros Pastorados foram breves, tanto por circunstâncias locais como pela própria dinâmica do trabalho, quando um obreiro era responsável por mais de uma Igreja. Esses primeiros pasto- rados, embora de curta duração, exercidos por Antônio Marques da Silva, Manuel Corinto Ferreira da Paz, José Pedro da Silva e Robert Edward Pettigrew, foram abençoados e frutíferos para a Igreja e para a Causa de Cristo, exercidos de forma dedicada por estes Servos do Senhor para divulgação e do Evangelho de Cristo nesse bairro do Recife.



O 1º Pastorado: ANTONIO MARQUES DA SILVA. Esse foi um dos mais breves pastorados da IBCOR, com poucos meses de duração, de 15 de novembro de 1905 até meados de 1906. Essa brevidade causou, até recentemente, dificuldade para alguns reconhecêlo como Pastor da Igreja. A respeito disto, Isaque Aragão(Manuel Alves Barbosa), o decano dos membros da IBCOR, escreveu: "Apesar de constar em arquivos, haver sido o pregador Antonio Marques o primeiro ‘Pastor’ da Igreja, já em 1906 contava-se na liderança da Igreja o Pastor Manoel Corinto da Paz...” (ARAGÃO, Isaque, Boletim da Igreja Batista do Cordeiro, de 15.11.1980). A manifestação do Diácono Isaque Aragão era a expressão decorrente da pouca informação que a igreja tinha sobre a figura singular do pioneiro Pastor Antonio Marques da Silva que, tal qual cometa, em fugaz passagem pela IBCOR e por outras igrejas Batistas em Pernambuco

A dúvida lançada sobre sua qualificação pastoral é afastada pelo registro do Pr
Pedro Tarsier, em "Perseguições Religiosas no Brasil", e Pr José dos Reis Pereira, na "História dos Batistas no Brasil (1882-1982)", além de registros contem-porâneos sobre suas atividades, inclusive sobre o reghistro da sua consagração no Templo da Igreja Batista da Bahia, feitos no Jornal Batista.

Antonio Marques da Silva foi um dos primeiros pastores brasileiros, nascido na Bahia. Alcançado pela mensagem do Evangelho, pregada por Zacarias Taylor, em Minas Gerais. Consagrado ao Ministério da Palavra (1888), por Zacarias Taylor, de cuja classe teológica fora aluno, conforme registra o pioneiro historiador: “1888 – [...] Antonio Marques foi consagrado em Minas e pouco mais tarde voltou à Bahia, seu Estado natal, para trabalhar na cidade de Valença.” Há divergência quanto ao local da consagração porque uma contemporânea, Archiminia Moreira, em artigo publicado quando ele ainda vivia, informa que o Pastor Antonio Marques da Silva foi consagrado ao Ministério da Palavra no casarão da ALJUBE, onde se reunia a Primeira Igreja Batista da Bahia, tendo por teto as estrelas e as copas da figueira: "[...] Foram ali [no Casarão do ALJUBE] consagrados os missionários nacionais. O primeiro deles, um verdadeiro apóstolo e mártir, João Gualberto Batista, que hoje descansa na mansão dos justos, consagrado ao ministério em 1883, e o velho Antonio Marques, que ainda está entre nós. [...]” (BARRETO, Archiminia, Os Primeiros Baptistas na Bahia, in’O Jornal Batista, de 23.06.1921, p. 9). Reis Pereira, referindo-se a ele diz: “Entzminger teve bons auxiliares na pessoa dos pastores brasileiros Melo Lins e Antônio Marques, este consagrado por Zacarias Taylor”.

O Pastor Antônio Marques da Silva ainda pastoreou as Igrejas Batistas de Maceió e Penedo, em Alagoas, e de Bom Jardim (PE), Sirigi (Moganga), em Pernambuco.
Após deixar o Pastorado da IBCOR, em meados de 1906, vamos encontrá-lo em Salvador (BA): “O rev. A. Marques veio de Pernambuco em setembro (1906) e foi empregado pela Missão até o fim do ano”. Encontramos mais de uma referência à sua participação em atividade da denominação no Estado da Bahia, mas sem indicação do exercício de pastorado. A tradição oral insinua que um parente exerceu o Ministério
Pastoral e, embora as pesquisas ainda não tenham comprovado o fato, há registro de atividade do Pastor Marques em companhia de igual sobrenome: “Organizada a Igreja Batista no bairro de Santo Antonio. [...] presentes os Pastores Ernest A. Jackson, C. F. Stapp, João Izidro Miranda, Ernesto Marques e Antonio Marques”.


O 2º Pastorado: MANOEL CORINTO FERREIRA DA PAZ (1906-1907). O primeiro Pastorado de Manoel Corinto Ferreira da Paz na IBCOR é o segundo, na ordem cronológica, e também de breve duração na história da Igreja, com poucos meses de duração. Iníciou-se em meados de 1906 e encerrou-se em 27 de janeiro de 1907, quando deixou o Pastorado da IBCOR, para exercer o ministério em Nazaré da Mata. Adiante, no segundo Pastorado, falaremos a vida do Pastor Manoel da Paz.

A Igreja, no primeiro Pastorado de Manuel da Paz, em setembro de 1906, preparou o primeiro Templo, no salão da casa alugada pela igreja ao irmão Felinto Pereira Freire. Naquele local a igreja funcionou até a construção do Templo próprio no segundo Pastorado de Manoel da Paz (em 1912). O Templo da Igreja ficava situado próximo da estação da ferrovia Recife-Várzea, no local que veio a ser denominado
Bomba Grande, em razão da bomba d´água para abastecer a locomotiva. No final desse Pastorado, em 8 de Janeiro de 1907, a Igreja organizou a sua Escola Bíblica Dominical21 e, logo em seguida, elegeu o Superintendente e o Tesoureiro (Ata de 9
de abril de 1907).

O 3º Pastorado: JOSE PEDRO DA SILVA (1907-1908)

Esse Pastorado, com duração de apenas dezesseis meses, entre 27 de janeiro de 1907 a 10 de maio de 1908. O Pastor José Pedro da Silva, natural do Recife
(PE), membro da IB do Recife, era aluno do Seminário Batista, tendo sido consagrado ao Ministério da Palavra, em 26 de setembro de 1907, em Concílio de que participaram os Pastores Salomão Ginsburg, David Luke Hamilton, Harold Harvey Muirhead, Manoel Corinto Ferreira da Paz, Jerônimo de Oliveira e Isidoro Candido Pereira. Considerado um orador de palavra agradável, mais tarde ficou cego, mas ainda pregava com
regularidade Era casado com Maria Barreto da Silva. Esse obreiro trabalhou vários anos como auxiliar de Salomão Ginsburg, auxiliando-o no pastorado de varias igrejas, inclusive na IBCOR.

A IBCOR, no seu Pastorado, elegeu os dois primeiros Diaconos: Felinto Pereira Freire e Agripino Ferreira de Barros (12.05.1907), colocando-os em exame, para
posterior consagração, como era o costume naquela época. Mais tarde, havendo o irmão Agripino retornado à sua terra de origem (Nazaré da Mata), em 1º de janeiro de 1908, no termino do Culto do Ano Novo, foi consagrado ao Ministério Diaconal o irmão
Felinto Freire. Em face da eleição nessa data, a IBCOR escolheu o segundo domingo de maio para, anualmente, comemorar o Dia do Diácono Batista do Cordeiro. Nesse período a IBCOR recebeu dois membros da Igreja Batista de Carpina, Francisco Fernandes de Oliveira e Francisca Maria de Oliveira, que havia sido dispersada pela perseguição religiosa movida pelos católicos da localidade, insuflados pelos padres. Eram eles dois líderes natos e que em muito contribuíram para a obra do Senhor, sendo ele, mais tarde consagrado ao Ministério Diaconal e ela ativa participante, inclusive professora da Escola Dominica. Por essa época as perseguições religiosas diminuíram na Capital, mas, no interior do Estado, persistiram durante anos, de forma feroz, com agressões físicas, queima de residências e até morte de crentes. Em várias ocasiões a IBCOR recebeu membros de Igrejas Batistas que haviam sido dispersos
por perseguição religiosa católica.

O 4º Pastorado: ROBERT EDWARD PETTIGREW (1908)


O Pastorado de Robert Pettigrew, na IBCOR é o mais breve, com quatro meses de duração, de 9 de junho a 10 de outubro de 190827. Pettigrew deixou o pastorado da IBCOR em face da transferência para pastorear a Igreja Batista de Nazareth da Mata e outras daquela região, ali permanecendo pouco tempo. Designado para servir em Maceió (AL), onde ficou até viajar em gozo de férias, aos Estados Unidos. Ao retornar, o casal Pettigrew foi enviado para o Paraná, onde fez excelente trabalho, estando na galeria dos heróis Batistas do Paraná. As informações sobre Robert Pettigrew no Brasil ainda são esparsas. Em Maceió (AL), o Pastor Robert Pettigrew promoveu a conciliação entre os grupos Batistas que se hostilizavam em razão da questão maçônica, que dividira a Igreja Batista de Maceió em dois grupos, um apoiando os irmãos que eram maçons e outros tomando posição contra (estimulados por obreiro presbiteriano).

Robert Pettigrew graduou-se na Universidade Batista do Sudoeste, em Jackson, Massachussets (USA) e se preparou para o ministério no Southern Baptist Theological Seminary, Louisville, Kentucky (USA). Missionário para o Brasil da Junta de Richmond (USA), em 190430, serviu na Bahia (1904-1907), em Pernambuco (1907-1908), em Alagoas
(1909-1910), no Paraná (1911-1917) e no Rio Grande do Sul (1917-1934). Pettigrew casou com Bertha Mills, em 30 de abril de 1910, em cerimônia realizada no Templo da IB-Recife, registrada n’O Jornal Batista: "Casamento. No dia 30 do corrente (abril ou maio?) na Primeira Igreja Batista do Recife receberam a benção matrimonial
os prezados irmãos Rev. Robert Edward Pettigrew e D. Bertha Mills. Mil felicidades lhes desejamos”
32.

Bertha Mills nasceu em Santa Bárbara (em 1879 ou 1880), filha de Williams D. Mills e Dora Mills, tendo por avô patérno James Mills e avós maternos Andrew e Elisa Tatcher, pioneiros de Santa Bárbara (SP). Convertida aos treze anos, ouvindo pregação do Pastor Michael Dickie, tornou-se membro da Igreja Metodista. Estudou no Colégio Progresso (São Paulo), adquirido por Anna Bagby, que mudou o nome para Colégio Batista Brasileiro. Nessa época, Bertha se tornou Batista e recebeu o chamado para Missões, indo estudar nos Estados Unidos. Nomeada missionária em
21 de novembro de 1907, retornou ao Brasil na companhia Aline e Harold Muirhead, para trabalhar no Colégio Batista, no Recife (PE)33. Casou com o Pastor Edward Pettigrew, indo o casal trabalhar em Alagoas. Em 1911, foi para Paranaguá, Paraná, e, em 1917, para o Rio Grande do Sul, onde faleceu em Porto Alegre, em 22 de abril de 193134. O culto memorial foi realizado na Igreja Metodista de Porto Alegre,
quando pregou o Pastor Guilherme Bagby. Sepultada no Cemitério Batista Alemão daquela cidade. Pettigrew pastoreou, em Pernambuco, as Igrejas Batistas do Cordeiro, Gameleira e de Nazaré da Mata36. Em gozo de férias na pátria em 1910, Robert e Bertha Pettigrew retornaram ao Brasil, estabeleceram-se em Paranaguá, no Paraná, em junho de 1910. Desenvolveram o trabalho Batista no Estado, com auxilio do Pastor Manoel Virginio de Souza, antigo companheiro de Pettigrew, que o convidou de Alagoas. O casal perma- neceu seis anos em Paranaguá, onde ele pastoreou a Igreja Batista. Lá, dirigiram uma escola, onde Bertha organizou a primeira sociedade de senhoras do campo paranaense. Aposentado em 1934, depois de servir no Brasil por trinta anos, Robert Pettigrew retornou a Louisville, Kentucky (USA), sua terra natal, onde Pastoreou a Walnut Street Baptist Church, a maior igreja Batista a oeste do Rio Mississipi, de onde se aposentou em 1962. Em 4 de setembro de 1962, Robert Edward Pettigrew faleceu, com mais de cem anos de idade.

HISTÓRIA DA IBCOR: A origem

Capítulo I

A IGREJA BATISTA DO CORDEIRO: a origem.

A Igreja Batista do Cordeiro foi organizada em 15 de novembro de 1905, a partir do da congregação da Primeira Igreja Batista do Recife, iniciada em 1901 por Salomão
Ginsburg, no bairro do Cordeiro, que a dirigiu e orientou até sua organização em Igreja. O culto festivo da sua organização ocorreu na manhã do dia 15 de novembro de 1905, dirigido pelo missionário Salomão Louis Ginsburg, auxiliado pelo Pastor Antonio
Marques da Silva, com a presença de muitos membros da Igreja Batista do Recife, inclusive o Diácono Arthur de Cristo Lindoso e integrantes da Sociedade Auxiliadora de Senhoras: "A Sociedade Auxiliadora de Senhoras da Igreja (1ª do Recife)comemorou o dia 15 de Novembro com passeio à Iputinga para assistir à organização da nova Igreja Baptista, que se realizou às 11 horas da manhã, sendo o serviço dirigido pelo Pastor Salomão Ginsburg, auxiliado pelo Pastor Antonio Marques e irmãos leigos" (OJB de 15/12/1905, p. 7).

Nove dias antes, a Igreja Batista do Recife concedera cartas de transferência a vinte e dois dos seus membros, residentes na Iputinga, para se organizar em Igreja, entre estes quinze recém batizados, conforme noticiado no Jornal Batista: "Na sessão mensal da mesma Igreja (do Recife) realizada em 6 de Nov, foi deliberado conceder cartas demissórias aos irmãos residentes na Iputinga para ali se constituírem em Igreja da mesma fé e ordem. Ela foi de fato organizada a 15 conforme noticia acima mencionada e para assistirmos a organizamos recebemos amável convite da igreja, mas não pudemos dele nos utilizar" (OJB de 15/12/1905).

A nova Agência do Reino de Deus no Recife adotou o nome de “Egreja de Christo denominada Baptista, na Iputinga” e o registro da sua fundação está publicado no Jornal Batista de 15 de dezembro de 1905: "O dia 15 de Nov(embro) foi um dia memorável na historia dos Batistas pernambucanos. Não posso contar de tudo, mas, sim, dar um ligeiro esboço somente do que se fez naquele dia. Às 11 horas da manha organizou-se a Igreja Batista de Iputinga. O salão estava lindamente ornamentado. Muitos irmãos tinham vindo da cidade para assistir aquele ato. Por uma corrente de circunstancias imprevistas, os quatros Pastores esperados que deviam tomar parte na ocasião não estavam presente, mas, nem por isso se deixou de realizar o trabalho. O irmão Antonio Marques foi eleito Pastor e o irmão Arthur Silva (Lindoso), secre-tário. A igreja conta com 22 membros" (OJB, de 15/12/1905, p. 7).

A Egreja de Christo, denominada Batista, na Iputinga, nos primeiros anos, usou outros nomes como registram suas atas: Egreja de Christo no Cordeiro (1906); Egreja Evangélica Baptista na Villa do Cordeiro (março de 1909); Egreja Evangélica Baptista do Cordeiro (novembro de 1912); e Egreja Baptista do Cordeiro (agosto de 1914). Finalmente adotou o nome de Igreja Batista do Cordeiro (1915). Era a segunda igreja batista organizada no Recife e a décima quarta no Estado. O início desse trabalho fora a congregação organizada em 1902, por Salomão Ginsburg e por ele foi dirigida até essa data (15 de novembro de 1905).

Organizada a Igreja em Concílio composto pelos pastores Salomão Ginsburg (IB Recife) e Antonio Marques (IB Nazaré da Mata) e do diácono Arthur Lindoso, foi escolhido Antônio Marques da Silva para pastoreá-la. A Igreja Batista do Cordeiro, ao ser formada, era uma comunidade de pessoas de origem humilde, a maioria oriunda do interior do Estado, alguns fugindo da perseguição movida contra as Igrejas em Bom Jardim, em Ilheitas e em Paudalho. Os seus integrantes eram trabalhadores de indús- trias têxteis existentes nos bairros da Torre, do Cordeiro e da Várzea. O Pastor Salomão Ginsburg, seu fundador, foi, durante cinco anos, o seu dirigente, pessoal-mente e, nas ausências, auxiliado por outros missionários e seus auxiliares. Organi zada em Igreja, Salomão escolheu Antônio Marques da Silva para o primeiro pastor e, quando este deixou Pernambuco, outro auxiliar (Manoel da Paz) veio para o mesmo pastorado.

Os membros fundadores da Igreja Batista do Cordeiro não são todos conhecidos, em razão da perda da Ata de organização. A consulta das primeiras atas traz os nomes de alguns: Felinto Pereira Freire, José Pereira Freire, João Baptista do Rego, Francisca Maria de Araújo, Manoel Jose de Souza, José Mariano do Couro, Sebastião de Souza Marques, Luiz Bezerra, José Miguel, Maria Norberto da Silva, Sebastião Moyses de Souza, Anna Baptista da Luz, João Ramos, Guilhermina Francelina Ramos, Maria Izabel da Silva, Belmira Pereira Freire e Neomisia Pereira, faltando serem identificados cinco.

Era a Igreja situada na Vila do Cordeiro, na Iputinga, próxima da estação da linha férrea Recife-Várzea, no local Arthur de Christo Lindoso – seu nome correto, segundo sua sobrinha-neta Mirtô Lindoso Jamil -, foi um dos lideres leigos batista em Pernam buco, esteve presente a inúmeros de eventos da denominação: organização de igrejas, concílios para consagração de Pastores, aula inaugural do Seminário Batista entre outros. Em vários destes atos foi secretário do ato, guardando anotações que serviram de roteiro a Antonio Neves Mesquita, na redação da História dos Batistas em Pernambuco e da História dos Batistas no Brasil, como este declara. Arthur de Cristo Lindoso, era natural de Tatuamunha (Porto Calvo, Alagoas), tio paterno e quem criou Livio Cavalcante Lindoso, mais tarde Pastor (IB de Olinda, IB da Capunga e outras (Nota do Autor).

No período em que era Congregação, nela estiveram pregando José Piani (semina-rista), Guilherme Cannada (missionário) e Arthur Lindoso (diácono) (MESQUITA. Antonio N. HISTÓRIA DOS BAPTISTAS EM PERNAMBUCO, 1930, p. 110), no local que veio a se denominar Bomba Grande, em razão da bomba d´agua de abastecimento do trem que viajava até a Várzea. Segundo outros a expressão Bomba Grande decorre da existência de um grande bueiro sobre o riacho do Cavouco, que nasce nas terras do antigo Engenho do Meio, de João Fernandes Vieira.

Organizada a Igreja Batista do Cordeiro (IBCOR) e escolhido seu primeiro Pastor Antônio Marques da Silva, um dos seus auxiliares de Salomão Ginsburg, este logo deixou o Pastorado, face á necessidade dos seus préstimos em outra igreja. Salomão Ginsburg escolheu outro auxiliar seu em 1906, para pastoreá-la, o Pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz, que a dirigiu por um breve período, deixando o Pastorado para pastorear a Igreja Batista de Nazareth da Mata.

Cabe aqui abrir um parênteses para explicar a escolha de pastores. Nos primórdios do trabalho Batista em Pernambuco, como noutros estados, havia um missionário respon-sável pelas igrejas existentes e não havia um Pastor para cada uma igreja. Os missio-nários e os auxiliares se revezavam no cuidado e no pastoreio das igrejas do campo, pregando, ministrando a ceia e dirigindo todo o trabalho. Na época, poucas Igrejas remuneravam seus pastores, sendo citadas, a propósito, a IB de Nazaré e a IB da Torre, as primeiras a fazê-lo. Anos mais tarde as igrejas começam a contribuir, de forma incipiente, para o sustento dos seus obreiros.

A Igreja Batista do Cordeiro, ao longo da sua história,foi dirigida pelos pasto-res: (1) Antonio Marques da Silva (15.11.1905-1906); (2) Manoel Corintho Ferreira da Paz (1906-27.01.1907); (3) José Pedro da Silva (27.01.1907-10.05.1908); (4) Robert Edward Pettigrew (10.05.1908-06.10.1908); (5) Manoel Corinto Ferreira da Paz (07.11. 1908 - 30.04.1926); (6) Sebastião Tiago Correa de Araújo (1926 - 1951); (7) David Mein (1951 - 1981); (8) Amauri Munguba Cardoso (1981 a 1989);(9) Roberto Amorim de Menezes (1989 a 1999); (10) Flávio Germano de Sena Teixeira (1999 a 2004); e (11) Miquéias da Paz Barreto (2004 a 2005). Nesta galeria de ilustres servos do Deus Altíssimo, grandes pregadores do Evangelho de Jesus Cristo, queremos incluir e destacar o fundador da Igreja Batista do Cordeiro, o missionário Salomão Ginsburg, que a dirigiu enquanto Congregação da Igreja Batista do Recife (1901 - 1905).


Salomão Ginsburg, o Fundador (dados biograficos).

Salomão Luiz Ginsburg nasceu em lar judeu em Suwalki, na Polônia, em 6 de agosto de 1867. Cresceu alimentando dúvidas sobre alguns textos das Escrituras Sagradas, dos quais pediu esclarecimento ao seu pai, que não as deu. A curiosidade exacerbada pela negativa de resposta a indagação levou-o a buscar resposta às suas dúvidas, encon-trando-as entre os cristãos ingleses, onde encontrou quem explicasse com clareza os textos questionados. Resolvido a aceitar a Cristo como o Messias e seu Salvador, foi renegado pela família. Abrigado pelos congregacionais ingleses, passou a ser motivado a pregar a Cristo a outros. Aspirando vir ao Brasil como missionário,
esteve em Portugal aprendendo a língua.

Chegando ao Recife, enviado pela missionária congregacional, Salomão Ginsburg passou a ter contato com o missionário Batista Zacarias Taylor, que vinha à cidade com regularidade, visando restabelecer o trabalho Batista que existira no Recife (1ª Igreja Batista do Recife). Esses contatos decorriam do fato de Taylor se hospedar na residência do missionário congregacional a quem Salomão Ginsburg substituia. Salomão e Zacarias discutem aspectos doutrinários divergentes entre suas igrejas e a forma bíblica correta do batismo. Examinando com maior aténção os textos bíblicos, Salomão se convenceu de que a forma correta do batismo bíblico era por imersão. Havendo exposto o assunto perante sua congregação e tendo mantido os contatos com os missio-nários Batistas, dirigiu-se a Salvador, onde pediu para ser batizado nessa forma.

O missionário Zachary Clay Taylor o batizou em Salvador (Bahia) e, logo em seguida, foi ele consagrado como Pastor Batista para exercer o Ministério da Palavra em 19 de outubro de 1891. Retornando ao Recife, após ser nomeado missionário da Missão Norte-Americana, passa a trabalhar para dinamizar o trabalho Batista no Estado
(SILVA, Leonice Ferreira da, PRIMEIRA IGREJA BATISTA DO RECIFE: Episódios da sua
História, p. 27-31). Salomão Ginsburg participou da reorganização da Igreja Batista do Recife e, mais tarde, foi seu Pastor por dez anos. Fundou o Seminário Batista de Pernambuco e organizou as Igrejas Batistas em: (1) Jaboatão (1901), (2) Garanhuns(1901); (3) Siriji (1903), (4) Cortez (1903); (5) Palmares (1903); (6) Cordeiro (Recife, 1905); (7) Gameleira (Rua Imperial, 1905);(8) Atalaia (AL, 1907); (10) Torre (1908) e (11) Cabo (1908).

O crescimento do trabalho Batista nos vários campos (baiano, carioca e pernam-bucano), separados por distancias continentais, demandava a existência de uma enti-dade para coordenar os esforços do trabalho nas várias localidades, para atender à finalidade proposta. Os Batistas, historicamente, se organizavam em Convenções. Assim, Salomão Ginsburg sonhou e se articulou com outros dirigentes do trabalho Batista e concretizaram o sonho de organizar a Convenção Batista Brasileira. Reis Pereira, com justiça, chama Salomão Ginsburg de “o Pai da Convenção Batista Brasileira" (REIS PEREIRA, Jose dos. HISTORIA DOS BATISTAS 1881-1982).

Salomão Ginsburg conheceu, em Londres, a enfermeira Amelia Carolina (Carrie) Bishop, que também tinha vocação missionária. Ficaram noivos, combinaram que, quando ele se estabelece no Brasil, mandaria buscá-la para aqui casarem. Chegando à cidade do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), ele mandou buscar a noiva. Carrie e Salomão casaram-se em 1891, em Salvador (1892). Infelizmente, ela faleceu quatro meses depois, vitimada pela febre amarela. Salomão se tornou Batista, sendo nomeado missionário da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos (Junta de Richmond) quando conheceu Emma Proctor Morton, missionária solteira que trabalhava no Brasil. Casou-se em 1º de agosto de 1893, na Igreja Batista de Niteroi, em cerimônia oficiada pelo missionario Jamees Jackson Taylor. Emma Proctor Morton nascera em 16 de Janeiro de 1865, em Owensboro, Kentucky (USA), filha de Henry Thomas Morton (1832-1906) e Mary Arvila Proctor (1844). Emma Ginsburg, companheira amorosa e dedicada ao marido e ao trabalho missionário, arregimentou mulheres e moças dos locais onde o casal trabalhou, engajando-as no serviço do Senhor, organizando as primeiras Socie-dades Auxiliadoras de Senhoras (hoje União Feminina Missionaria). Mulher dinâmica, com luz própria, valorosa companheira do maior missionário batista que o Nordeste do Brasil recebeu, realizando, em dez anos, grandes coisas para o Senhor da Seara. O casal Ginsburg teve os filhos Arvilla Henrieta (1894, Brazilia, Claire (1897-1972, Robert (1900-1958, Henrieta (1904-1994, Emily (falecida na infância, em Kansas, Missouri), Estelle Ginsburg e Louis (falecido solteiro). Os filhos casados deram ao casal Ginsburg sete netos e mais de duas dezenas de bisnetos, criados e residentes nos Estados Unidos, para onde os levou Emma Ginsburg ao retornar, depois do falecimento do esposo, indo residir em Kansas, no Missouri, onde faleceu em 1930.
Salomão Ginsburg faleceu na Cidade de São Paulo, em 1º de abril de 1927, com sessenta anos incompletos, depois de uma vida plena de realizações no Reino de Deus, sendo sepultado no Cemitério Protestante.

A Perseguição em Bom Jardim

Ocorreu em Pernambuco (1898) uma das maiores perseguições contra os Batistas no Estado. A chegada de Salomão Ginsburg ao Estado coincidiu com a perseguição movida aos crentes, em particular em Bom Jardim, “onde a Igreja foi praticamente destruída e seus doze membros caçados como malfeitores10” (SILVA: 2004, 57). O trabalho Batista em Bom Jardim fora organizado pelos esforços do missionário Entzminger e do Pastor Antonio Marques. Na residência do convertido Primo Feliciano da Fonseca, foi aberta uma congregação, o que desagradou a Nicolau Antonio Duarte, proprietário do Engenho Oiteiro, e a Motta Silveira, chefe político local. Estes, ao saber da visita do Pastor Antonio Marques à cidade, cada um, de per si, contrataram um grupo de desordeiros para surrar e matar os crentes, os quais, sabendo do perigo, fecharam as portas da casa. O primeiro grupo de inimigos se postou diante da casa e, chegando o segundo grupo, julgou que se tratava dos crentes. Começaram a atirar. A troca de tiros resultou na morte de várias pessoas. Os crentes escaparam pelos fundos da casa, mas as mortes resultantes do conflito lhes foi atribuída. Eles foram caçados e quatro deles presos, inclusive o Pastor Antônio Marques da Silva.

Essa era a situação quando Salomão Ginsburg assumiu o Pastorado da Igreja Batista do Recife e a direção do trabalho Batista em Pernambuco. Chegando ao Estado bem recomendado, inclusive pelo Vice-Presidente da República, Francisco de Assis Rosa e Silva, chefe político do Estado e, como ele, filiado à Maçonaria, foi ter com o governador do Estado, Antonio Gonçalves Ferreira. Este o pôs a par do clima da região e tentou dissuadi-lo de viajar para ali. Salomão Ginsburg retrucou que se lhe dessem garantias e segurança, ele estava disposto a enfrentar a situação.

O governador forneceu segurança necessária, demitiu o chefe de polícia de Bom Jardim e nomeou o coronel Joaquim Gonçalves, que se tornou amigo dos crentes. Salomão
Ginsburg se dirigiu para lá com o missionário Jefté Hamilton, acompanhado de um destacamento de soldados para lhes dar garantias. Hospedou-se na casa de Joaquim
Gonçalves, o novo chefe de policia. Salomão Ginsburg visitou as autoridades, inclusive o juiz que presidiria o julgamento dos crentes. Estes foram julgados e inocentados. Todavia, a prudência os aconselhou que mudar da localidade. Alguns desses irmãos, inclusive o Pastor Antônio Marques da Silva e Primo da Fonseca e sua família, deram origem à Congregação do Cordeiro em 1901 (SILVA, 2004, p. 57-59).

O Bairro do Cordeiro. O bairro do Cordeiro tem sua origem mais remota nas terras do engenho de Ambrosio Machado, adquiridas no Século XVI. O seu proprietário era agricultor e senhor do Engenho Cordeiro, situado na Várzea do Rio Capibaribe, vizinho
do Engenho da Torre, junto do riacho Cavouco, que nasce nas terras do Engenho do Meio, atravessa a estrada pública de Caxangá e vai desaguar no Rio Capibaribe. Na
margem deste rio, havia a passagem de Ambrosio Machado (assim denominada por estar situadas nas terras desse proprietário), dando acesso ao engenho de Jerônimo Paes, mais tarde chamado de Engenho da Casa Forte. Ambrosio Machado era pernambucano de ilustre família e participou da luta contra os invasores holandeses. Derrotadas as tropas luso-brasileiras, em 1635 após a queda do forte do Arraial do Bom Jesus, os integrantes destas se retiram em direção à Bahia, acompanhados de grande quantidade da população civil. Entre os que emigraram estava Ambrosio Machado, presumindo-se que
morreu na retirada ou durante as lutas, porque não se tem mais noticias do mesmo depois dessa época. Abandonado por seu proprietário o Engenho de Ambrosio Machado,
foi confiscado pelos holandeses e vendido a uma da sua nação. Ocorrendo a derrota dos holandeses, com a restauração da soberania do rei de Portugal d. João IV sobre a capitania, em 1654, as terras do Engenho de Ambrosio Machado foram incorporadas
aos bens da Coroa Portuguesa pela fazenda real (PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto, ARREDORES DO REICFE, p. 17). O vau (passagem) de Ambrosio Machado serviu para a passagem das tropas luso-brasileiras que, sob o comando de Francisco Barreto de Menezes e de João Fernandes Vieira, vieram atacar os holandeses, aquartelados no outro lado do rio, no engenho de Ana Paes. Pereira da Costa, citando um cronista da época, narra o episódio: Chegamos ao ponto de amanhecer no rio Capibaribe na
Passagem de Ambrosio Machado e, achamos que ia tão cheio que não se podia vadear sem grande risco e perigo e não achamos ali batél, canoa nem jangada para passar para a outra banda. Vendo isto, o governador João Fernandes Vieira mandou entrar pela água um mulato seu, grande nadador, para que fosse tomando o vau; e ele entrou pelo rio em seguimento ao do escravo, montado em um cavalo brioso e forte, com água pelo arção da sela e passou para a outra banda. Vendo os nossos soldados que o governador da liberdade estava da outra banda, começaram todos a entrar pelo rio, uns despidos e outros vestidos e calçados, pelas uns aos autos, e com as armas de fogo no
alto, e em breve se puseram todas da outra bandab (PEREIRA DA COSTA, ARREDORES DO RECIFE, 77).

Uma parte destas terras foi ocupada pelo Capitão João Cordeiro de Medanha, que combatéra na guerra da restauração desde o seu início, como ajudante de ordens do chefe João Fernandes Vieira. Nessa parte de terras, ele fundou uma grande plantação de cana-de-açúcar. O local passou a ser conhecida como Engenho Cordeiro e a passagem (vau) no rio como Passagem do Cordeiro. Arrematada, em hasta publica, pelo Capitão José Camelo Pessoa, Senhor do Engenho Monteiro, a venda da propriedade foi regis- trada por escritura publica, lavrada em 16 de novembro de 1707, ficando as terras incorporadas às do engenho Monteiro até o final do Século XVIII. As terras adqui ridas por José Camelo Pessoa, eram constituídas daquelas onde estava cultivado o partido de cana-de-açúcar e outros dois sítios que haviam pertencido a D. Isabel Car-
doso e ao Capitão José Nunes da Vitória, outro militar da guerra contra os holandeses. Adquiridas do proprietário do Engenho Monteiro, no final do Século XVIII, as terras do antigo engenho de Ambrosio Machado, por Sotero de Castro, este fundou um novo engenho (fábrica de açúcar), a que deu o nome de Engenho Cordeiro, em memória do antigo proprietário, João Cordeiro de Medanha, nome pelo qual já era conhecida a localidade. O engenho Cordeiro não teve uma existência longa. Encon-tramos, em 1831, o registro de sua moagem, quando propriedade de Joaquim da Silva Pereira. Porém, mais tarde, deixou de funcionar. Abandonado, restaram apenas a casa
grande dos proprietários, com seu aspecto modificado. A localidade logo se constituiu em povoado, mantendo o nome de Cordeiro, do antigo engenho de açúcar. A partir do século XX, passa a abrigar moradias da massa de operários das fabricas têxteis e de outras industrias da região.

O bairro do Cordeiro é cortado pela Avenida Caxangá, construída no início do século XX e alargada no terceiro quarto desse século. Essa avenida segue o traçado da antiga estrada que ligava a Madalena à Várzea do Capibaribe, em linha reta, e onde havia a ferrovia ligando o centro do Recife à Várzea. O bairro do Cordeiro tem por limites o rio Capibaribe, ao norte; os bairros do Bongi e do Engenho do Meio ao sul; os bairros da Torre e Zumbi a leste; e os bairros da Iputinga e do Engenho do Meio, a oeste. Neste bairro do Cordeiro, com essa tradição histórica, nasceu e se desenvolveu a comunidade religiosa denominada Igreja Batista do Cordeiro, que ora completa o seu Centenário de existência.

HISTÓRIA DA IBCOR Introdução

Parte I
CEM ANOS DA HISTORIA DA IGREJA BATISTA DO CORDEIRO

INTRODUÇÃO

A IGREJA BATISTA DO CORDEIRO, a igreja do coração


A História da Igreja Batista do Cordeiro, desde que dela tivemos conhecimento em 1970, tem sido narrada para a comunidade de forma resumida, contando-se os períodos dos Pastorados conhecidos: de Manoel Corinto Ferreira da Paz (1906-1926); de Sebas-tião Tiago Correa de Araújo (1926-1951) e de David Mein (1951-1981). A partir do término do Pastorado do Dr David Mein, foram acrescidos os fatos ocorridos nos Pastorados de Amauri Munguba Cardoso, de Roberto Amorim de Menezes e, mais recente-mente, do Pastor Flávio Germano de Sena Teixeira. Essa simplificação ocultara do conhecimento da comunidade fatos relevantes da história da Igreja, entre os quais:

– o período que antecedeu a organização em igreja (1901-1905), quando Congregação da Primeira Igreja Batista do Recife, organizada e dirigida pelo missionário Salomão Ginsburg e seus auxiliares;

– os períodos em que foi dirigida por dois servos de Deus, ainda desconhecidos na historiografia da comunidade: o Seminarista (depois Pastor) José Pedro da Silva (período de 27 de janeiro de 1907 a 10 de maio de 1908) e o Pastor Robert Edward Pettigrew, missionário norte-americano da Junta de Richmond (período de 10 de
junho a 6 de outubro de 1908;

– os Pastorados interinos de Jezimiel Norberto da Silva (1951); Francisco de Assis Carvalho (1953); Livio Cavalcanti Lindoso (1960-1961); João Virgilio Ramos André (1964); Hermenegildo Nunes da Silva (1967); Nabor Nunes Filho (1970); Norton Riker Lages (1974); David Lee Miller (1976); e James Frederick Spann (1980). Isso sem falar dos muitos outros fatos relevantes. A Comunidade Batista do Cordeiro nasceu na localidade denominada Bomba Grande, na Vila do Cordeiro, defronte da estação da ferrovia Recife-Várzea, onde havia uma bomba d’água para abastecimento da caldeira de vapor do trem. A vila do Cordeiro, no início do século XX, era um aglomerado de casas de operários, emprega dos da várias industrias têxteis e de cerâmica existentes nos bairros do Cordeiro, da Torre e do Zumbi.

Inicialmente, o nosso projeto previa o registro cronológico com ligeiro retros- pecto da História do Povo de Deus chamado Batista, desde a origem dessa comunidade de cristãos, na Holanda e na Inglaterra no Século XVI, passando pelos Estados Unidos e a vinda dos primeiros Batistas para o Brasil, bem como o início da divulgação do Evan- gelho cristão pelos Batistas em Pernambuco, há cento e vinte e anos atrás. Todavia, quando já redigida a maior parte do texto, optamos por fazer uma inversão na apresentação.

Apresentamos primeiro os registros referentes à Igreja Batista do Cordeiro, desde a organização da Congregação, filha da Igreja Batista do Recife , sua formação como igreja autônoma e o seu desenvolvimento como Agência do Reino de Deus, regis-trando todos os Pastorados, ao longo do centenário de atividades que ora comemo-ramos a serviço do Reino de Deus e da proclamação do Evangelho de Cristo. Depois, em uma segunda parte, apresentamos os fatos que antecedem à existência da Igreja, desde o surgimento dos Batistas na Inglaterra e na Holanda, passando pelos Estados Unidos, em Rhode Island e Filadélfia. A seguir, no Brasil, a vinda do primeiro missionário norte-americano - Thomas Jefferson Bowen - e a organização das primeiras Igrejas Ba tistas em solo brasileiro, em Santa Bárbara (1871) e Estação (1879), ambas em Santa Bárbara (SP), onde foi consagrado o primeiro Pastor Batista brasileiro - Antonio Teixeira de Albuquerque -, vindo este depois com os pioneiros missionários norte americanos Anna Luther e Guilherme Bagby, Catarina e Zacarias Taylor para Salvador (BA), trazendo cartas demissórias das igrejas batistas de Santa Bárbara e fundaram a Primeira Igreja Batista da Bahia, em 15 de outubro de 1882.

Depois, a chegada do Evangelho do Reino ao Nordeste,quando os pioneiros da Bahia vieram a Maceió e fundaram a Igreja Batista de Maceió (mais tarde Primeira Igreja Batista de Maceió – PIB Maceió). Desta ultima saiu Mello Lins, que fora batizado em Pernambuco pelo missionário Zacarias Taylor, que deu início a Congregação Batista. Mais tarde, com a chegada dos missionários Lena Kirk e Charles David Daniel, organi-zaram a Igreja de Christo no Recife, denominada Batista (mais tarde Primeira Igreja Batista do Recife – PIB Recife), em 1886, que se tornou o centro irradiador da luz do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Foi dela que saíram as sementes que germinaram e deram como fruto as igrejas Batistas do Estado de Pernam- buco e do Nordeste.

Complementando estas duas partes, incluímos uma Iconografia, com as figuras dos pastores, de personalidades históricas e do templos da Igreja Batista do Cordeiro

Concluída a tarefa a que nos impusemos, de resgatar a História da Igreja Batista do Cordeiro – IBCOR – a Igreja do Coração, desejamos que o presente texto contribua para preservar a memória desta comunidade Batista, que tem servido e continuará servindo ao Deus Trino: Pai Filho e Espírito Santo, para sempre. Amém!

HISTÓRIA DA IBCOR Apresentação


Templo da Igreja Batista do Cordeiro (1922) e os mensageiros da Convenção Batista Regional

HISTORIA DA IGREJA BATISTA DO CORDEIRO
Apresentação

A IGREJA BATISTA DO CORDEIRO E SUA HISTÓRIA

A possibilidade de se escrever a História da Igreja Batista do Cordeiro começou a ser objeto de nosso pensamento quando, há algum tempo atrás, passamos a ler, com olhos mais que curiosos, os textos escritos pelo Professor Isaque Aragão (como é carinhosamente chamado o irmão Manoel Alves Barbosa) nos boletins de cultos, abor-dando aspectos históricos da nossa comunidade de fé. Esse servo de Deus, de extrema dedicação ao Senhor e à sua Igreja, durante toda a sua vida, deixou em muitos o desejo de ver registrados os fatos históricos que marcaram a trajetória desta Igreja Batista, que foi a segunda organizada no município do Recife e a décima quarta no Estado.

Esperávamos que fosse ele a registrar, nos anais Batistas e do tempo, a história da sua querida Igreja do Coração. Embora tendo feito incursões em pesquisas na histo riografia de Pernambuco, reconhecíamos que caberia a ele a primazia na elaboração dos registros da nossa Igreja. Tampouco nos sentíamos à altura da tarefa. Surpresos e estimulados ficamos quando ele, declinando da honra, pediu que assumíssemos a ta- refa de escrever a memória da Igreja Batista do Cordeiro. Aceito o desafio com o respaldo do Pastor Flavio Germano de Sena Teixeira, começamos a nos preparar para
a nobre tarefa, buscando as fontes de registro.

A pesquisa para resgate dessa história demandou leitura de todas as Atas daIgreja Batista do Cordeiro, desde a mais antiga existente, a ata (8ª) da sessão do dia 8 de setembro de 1906, à pesquisa em fontes secundárias. Entre elas, citamos:

– o Jornal Batista, repositório da História do Povo Batista Brasileiro, em cuja edi- ção de 15 de dezembro de 1905 está registrada a fundação da Igreja Batista do Cor- deiro, além do registro de muitos outros fatos a ela relacionados e à história dos Batistas no Estado, inclusive os textos do missionário Entzminger, historiando os primórdios do trabalho Batista em Pernambuco;

– o livro autobiográfico "Um Judeu Errante no Brasil", escrito por aquele que foi a lenda Batista, Salomão Ginsburg, cujo nome real era Sholomo Ludwig Ginsburg, um verdadeiro apóstolo Paulo do final do Século XIX e início do Século XX.

– os livros "A História dos Batistas em Pernambuco" e "A História dos Batistas no Brasil", de Antonio Neves Mesquita, "A História dos Batistas no Brasil", de Asa Routh Crabtree, "Panorama Batista em Pernambuco", de Zaqueu Moreira de Oliveira e João Virgilio Ramos André e "A Primeira Igreja Batista do Recife: episódios de sua historia", de Leonice Ferreira da Silva;

– o livro "Centelha em Restolho Seco", excepcional obra dessa figura simpática, a Professora Betty Antunes de Oliveira.

Todos foram fontes onde buscamos registros dos fatos adiante narrados, resgatando a História da Igreja Batista do Cordeiro (ICOR), conhecida como a Igreja do Coração, no ano em que esta comunidade de fé completa o Centenário de Serviço a Deus e da sociedade.

O resgate da memória visual também trouxe grande dificuldade, em especial quanto aos primeiros pastores, a quem o tempo nublou a lembrança de descencendentes e con- temporâneos. Mas o trabalho persistente permitiu recompor as figuras dos pioneiros do trabalho Batista em Pernambuco e dos Pastores da Igreja Batista do Cordeiro, algu-mas restauradas a partir de fotografia desbotada ou de fotocópia de um livro raro e esgotado, a partir do trabalho do artista plástico alagoano, Olivar Fonseca. Estas gravuras serviram para recompor a Galeria de Pastores da Igreja Batista do Cordeiro, onde não haviam as figuras dos Pastores Antonio Marques da Silva, de Roberto Edward Pettigrew e de José Pedro da Silva. Aquela do Pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz foi melhorada, fazendo-se uma imagem dele quando ainda em pleno vigor físico, em torno de trinta anos, bem como do fundador, Salomão Ginsburg.

Concluída, de modo incompleto e imperfeito, a tarefa de resgatar a História da Igreja Batista do Cordeiro – IBCOR – a Igreja do Coração, entregamos o seu resultado à Igreja e à Denominação Batista. Desejamos que a leitura estimule os membros da Igreja e os Batistas de Pernambuco a preservar a memória desta igreja de Cristo e do povo de Deus chamado Batista, resgatando a memória daqueles que perseveraram no Caminho do Senhor, servindo-O e pregando o Evangelho do Seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, a quem seja dada toda Honra, Glória e Louvor, agora e para sempre. Amém!